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Foto do escritorPsicóloga Nayara Gomes

O peso da representatividade


Todes sabemos a importância da representatividade para nossas construções tanto subjetivas quanto práticas. De fato, ver alguém como nós ocupando espaços antes “inatingíveis” devido a toda construção estrutural da nossa sociedade nos dá ânimo, nos auxilia e nos motiva a seguir em frente com nossos projetos e sonhos. O exemplo em algum grau acaba nos legitimando e impulsionando, não há dúvidas disso, mas você já parou para pensar na pessoa que ocupa esse lugar de representação?


Pergunto isso porque recentemente tenho me deparado com pessoas que ocupam esse lugar e trazem o discurso do quanto a angústia se torna presente em suas vidas. Seja em um nível macro, de ser um dos poucos ou o único de seu país/etnia/gênero a conseguir algum feito, seja no micro, ser o único da família a ter entrado em uma universidade ou passado em um concurso, etc. Independente do alcance de seus feitos, algumas pessoas se sentem sobrecarregadas por exercerem esse papel. Como se fosse obrigatório o êxito ou como se não existisse a possibilidade de se enxergar como indivíduo por carregar essa responsabilidade de representar um grupo social. Sendo assim, se obtiver êxito em seus feitos, acaba vendo como uma obrigação, pois lhe foi dada a oportunidade e acertar era o mínimo esperado; caso venha a falhar em algum momento, o peso da falha recai sobre toda a coletividade como se justificasse o não acesso ao seu grupo a tais locais, generalizando uma questão singular. Temos inúmeros exemplos disso em veículos de comunicação, e principalmente, no notório peso do julgamento para alguns grupos, sobretudo da população negra, ao cometer deslizes naturais a qualquer pessoa.


A ocupação desses locais de representação, por mais positiva que seja para o coletivo e para o indivíduo, ainda pode trazer determinados incômodos como angústia, ansiedade e, em um nível mais intenso, até mesmo a autossabotagem; principalmente se essa pessoa não tiver sustentação emocional para compreender o papel que ocupa enquanto indivíduo e enquanto coletividade. Aprender a separar esses papéis é primordial para que tais incômodos não se perpetuem como mais uma forma de desumanização de nossos corpos, se não por um local de inferioridade, como historicamente tentam nos colocar, também por um local de excelência em que não é permitido errar.


E assim, essas pessoas são objetificadas e podem se distanciar de suas ambições e em algum momento não conseguir mais valorizar e comemorar seus êxitos ou aprender e ressignificar suas falhas. Podem até chegar a desistir de seus objetivos devido ao peso enorme que estavam carregando ao construir suas trajetórias. Nesses casos o suporte emocional e o acompanhamento psicológico se tornam etapas imprescindíveis para a separação do que é genuinamente individual daquilo que é externo; através dessa separação é possível começar a criar estratégias de autopreservação e humanização.


Gostou desse tema? Se ele fez sentido para você, não deixe de conferir o livro “Nós por Nós” de minha coordenação junto com a Ana Sou, nele você encontra essa temática e muitas outras relacionadas ao autocuidado e estratégias de saúde mental para a população negra.

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